segunda-feira, 8 de abril de 2013

A ORIGEM DAS LÍNGUAS E DAS ETNIAS

A ORIGEM DAS LÍNGUAS E DAS ETNIAS

Entrevista concedida pelo Professor Orlando Rubem Ritter

O criacionismo defende que, após a Criação, havia uma só língua, ou seja, uma só estrutura linguística  com um vocabulário comum, como pode ser observado em Gênesis 11:1. Entretanto, essa língua comum foi um dos fatores utilizados pelo ser humano para violar uma das primeiras recomendações divinas, a de encher e dominar a Terra. De fato, opondo-se a esse claro desígnio de Deus, o ser humano começou a construir uma cidade e uma torre, "para não serem espalhados pela superfície da Terra". Foi essa, em parte, a razão pela qual o mesmo Deus que havia dado a linguagem aos homens deu origem a várias famílias linguísticas (Gên. 11:7), em resultado do que a humanidade acabou se espalhando por todo o planeta. O ponto de vista criacionista, baseado no relato bíblico, explica assim não só a unidade, mas também a diversidade das línguas.

É sobre isso que o professor Orlando Rubem Ritter fala nesta entrevista concedida ao jornalista Michelson Borges. Ritter é natural de Porto Alegre. Formado em Matemática pela USP, é também mestre em Educação pela Andrews University, nos Estados Unidos. Além de ter sido diretor de faculdades e fundador de escolas, foi professor de Matemática e Física por mais de 30 anos, e professor de Ciência e Religião por mais de 40 anos. Foi também coordenador do curso de Pedagogia do Centro Universitário Adventista, campus São Paulo.

Fale um pouco sobre a variedade linguística e étnica no mundo.

A variedade é um fato marcante neste planeta. Enquanto seres humanos foram capazes de pintar a Capela Sistina e compor belíssimas sinfonias, há tribos que ainda não sabem usar o fogo. É um grande contraste. No que diz respeito aos aspectos étnicos, ou raciais,* e linguísticos, também há grande variedade. Só na África são mais de mil etnias. Os ramos linguísticos são cerca de cinco mil.

Existe consenso com relação à origem comum de toda a humanidade, a partir de um casal original?

Sim. É a Antropologia Descritiva (ou a Etnologia) que estuda as etnias humanas. A Lingüística* estuda as línguas. Conhecer a origem das etnias e das línguas é realmente algo empolgante. A origem comum da humanidade a partir de um par original é chamada monogenismo, e esse conceito também se aplica à origem das línguas.
Podemos utilizar a Bíblia como fonte de hipóteses, sustentadas, é claro, por evidências, para ter uma ideia de como se deu a origem das etnias e das diversas línguas.

O que a Bíblia fala sobre o primeiro homem?

Adão, ou Adam, em aramaico, quer dizer "tornar vermelho" ou "ficar vermelho", o que sugere que a pele dele tinha coloração avermelhada (e é bom lembrar que ele foi feito da terra). Na tradição hindu, aparece o ancestral Adamu; e na tradição sumeriana, a mais antiga civilização pós-diluviana, aparece Adapa. Segundo essa tradição, Adapa vivia num país onde não havia morte, o ar era puro e a água, limpa. Mas Adapa acabou perdendo o direito à imortalidade. Várias culturas possuem relatos que mostram uma origem comum para a humanidade, com Adão e Eva, no Jardim do Éden.

Por que o mundo antediluviano não promovia muita variabilidade?

A humanidade primeva vivia em um mundo bem diferente. O apóstolo Pedro fala do "mundo daquele tempo" ou "mundo de então" (II Pedro 3:6), deixando clara a idéia de que o mundo antediluviano era bem diferente do nosso. Os criacionistas e os evolucionistas concordam em que havia um único continente, a Pangea, com clima e topografia diferentes dos atuais. Esses fatores, e outros, promoviam a relativa invariabilidade de então, situação que perdurou até o Dilúvio.*

As características dos filhos de Noé sugerem alguma coisa ao pesquisador?

Noé tinha 480 anos quando Deus lhe ordenou construir a arca. Com 500 anos nasceu-lhe o primeiro filho: Jafé. Os dois seguintes, nasceram com dois anos de diferença cada: Sem e Cão. Creio que as características diferenciadas entre eles seja uma possibilidade de explicação para a variação étnica verificada entre os humanos.*
Jafé possivelmente tenha nascido com uma pele diferente da dos pais e um pouco mais clara, considerando-se as etnias que se originaram dele, ou seja, os caucasianos. Curiosamente, o significado do nome Sem é "nome". Isso mesmo. Nunca vi alguém chamado "Nome", mas o plano de Deus era que esse filho de Noé preservasse justamente o nome da família e o nome de Deus. Sem originou os povos semitas que, de fato, contribuíram para manter viva a religião monoteísta.
Cão significa "quente". Possivelmente sua bagagem genética tenha sido remodelada por Deus para enfrentar as regiões mais quentes que haveria no mundo, após o Dilúvio. Mas é claro que também devemos levar em conta o fato da adaptação biológica natural e o fator isolamento geográfico.
Gênesis 9:19 diz que desses três homens - Sem, Cão e Jafé - se povoou a Terra, originando-se as etnias e as línguas. O mundo passou por grande fragmentação geográfica e mudanças climáticas e topográficas, o que favoreceu a variabilidade em diversos aspectos.

Por que o senhor acha que Deus promoveria essa diferenciação entre eles ou teria dotado a humanidade com essa capacidade adaptativa?

Vejo aqui a presciência de Deus em dotar a humanidade renascente com características que lhes ajudariam a se adaptar melhor ao estranho mundo pós-diluviano. Além disso, era também uma forma de conter a maldade, isolando os povos.
Coincidentemente com a visão bíblica, os etnólogos classificam as etnias a partir de três grandes "raças" e troncos linguísticos  Mas o centro de dispersão, segundo a Bíblia, fica na Ásia Menor, no Cáucaso, ou terra de Ararate, e não na África, como querem alguns.
Aliás, na África, na última metade do século 20, foram encontrados fósseis de criaturas com aparência e características simiescas, como baixa capacidade craniana, membros aptos para agarrar e segurar, mas com o andar ereto, dentes pequenos, etc., e foram chamados de australopitecineos (Australopithecus africanus foi o nome de um dos primeiros encontrados).
Por causa das marcas humanas e de acordo com teorias correntes, muitos foram levados a considerá-los como antepassados pré-humanos e a África, como o "berço da humanidade". Nesse contexto, causou muita sensação o achado de um esqueleto quase completo de australopiteco, que inclusive recebeu o nome de Lucy.
Nos anos 1960 foram descobertos, num desfiladeiro da África Oriental, fragmentos fósseis de uma criatura jovem com abóbada craniana maior que a dos australopitecos. Como nas vizinhanças desse local alguns anos haviam sido encontradas pedras lascadas de modo bastante rude, presumiu-se que tivessem sido produzidas por essa criatura, razão pela qual foi-lhe dado o nome de Homo habilis.
Como era de se esperar, alguns viam nessa criatura um elo intermediário entre os gêneros Australopithecus e Homo. Contudo, após estudos posteriores e não pouca discussão, prevaleceu a tendência de considerá-la como um australopiteco, por causa de características tipicamente simiescas nas proporções corporais e na dentição.
Não parece simples colocar os australopitecos numa linha filogenética evolutiva indo do macaco em direção ao homem. O peso das características simiescas é muito grande e são observados diferentes graus de variabilidade nas diversas partes do corpo, não permitindo formar uma linha evolutiva, mas sim uma disposição em mosaico dentro do grupo. Por isso, para muitos, parece prevalecer a ideia de considerar os australopitecos apenas como um grupo diferente e peculiar de primatas.

Os traços peculiares dos três filhos de Noé podem ser identificados ainda hoje?

Sem dúvida. Até hoje os povos semitas (descendentes de Sem) podem ser reconhecidos pelos traços fisionômicos. As línguas que falam, apesar das variações, também podem ser identificadas através dos sons guturais fortes, como no árabe, e das raízes trilíteras, compostas unicamente de consoantes (só mais tarde os massoretas acrescentaram vogais ao hebraico).
Jafé deu origem aos povos indo-europeus, ou caucasianos, ou ainda arianos. Os jafetitas, além de povoarem a Europa, imigraram para o vale do Rio Indo (Índia), ocorrendo a miscigenação com os povos que lá já havia. Os hindus têm, portanto, ascendência jafetita e sua língua tem como base o sânscrito, que é uma língua jafetita. Dessa língua surgiu uma grande família que originou idiomas como o latim, o grego e o português, "a última flor do Lácio". São línguas agradáveis, "de cultura" e ampla flexão nominal e verbal, que permitem expressar idéias profundas, o que não ocorria com as línguas semíticas.
Um dos sete filhos de Jafé, Gômer, originou os europeus; Javã originou os gregos; Magog, os povos eslavos (russos); e Madai, os medo-persas.
Cão, por sua vez, deu origem às etnias negroides  australóides e mongoloides - ou camíticas. Suas línguas sofreram grande fragmentação. São silábicas e aglutinantes. Exemplo: Itatiaia, palavra indígena que significa pedra (ita) de muitas pontas.
Do filho mais velho de Cão, Cush, surgiram os cushitas, que deram origem aos etíopes, sudaneses e núbios, ou seja, os negros. Ninrod, também filho de Cão, fundou Babel, onde houve a grande fragmentação linguística  Misrain originou os egípcios; e Canã, que quer dizer púrpura, deu origem aos cananitas. Quando os gregos entraram em contato com os cananitas, na costa mediterrânea, chamaram-nos de fenícios, que quer dizer justamente púrpura.

Fale um pouco mais sobre as características das três grandes etnias.

Os semitas tinham propensão à religiosidade. Agarravam-se a Deus, ou a deuses. Como disse, o hebraico, por exemplo, é uma língua rígida, invariável, própria para transmitir verdades imutáveis. Cogitavam do mundo espiritual, característica que nossa cultura cristã herdou.
Os jafetitas, por causa de sua linguagem e estrutura mental, tinham vocação intelectual. Suas línguas eram próprias para a literatura, a poesia e o canto. Buscavam a verdade, o que fizeram de fato os grandes filósofos.
Já os povos camíticos foram os desbravadores do mundo. Preocupavam-se mais com o "aqui e agora", eram práticos. Desenvolveram tecnologia náutica e de outras naturezas. Veja o bumerangue dos aborígenes australianos, por exemplo. Uma maravilha da engenharia. Quando os outros povos se lançaram a descobrir novos territórios, os descendentes de Cão já estavam lá. Tome como exemplo a América.
Como se pode ver, todas essas etnias têm características positivas que ajudaram a humanidade, de uma ou de outra forma.

E o que dizer sobre os restos fossilizados de seres humanos com marcas divergentes das normalmente apresentadas pelo homem atual (Homo sapiens) e encontrados no Vale de Neanderthal, na Alemanha, e posteriormente em muitos lugares da Europa?

Foi um esqueleto completo, encontrado em 1908, na gruta Chapelle-aux-Saints, na França, que serviu de base para a descrição desse homem fóssil pelo paleontologista francês Marcelin. Conhecido como "homem das cavernas", o neanderthal era baixo, atarracado, com cabeça volumosa (capacidade craniana igual à do homem moderno), face longa, ossos nasais enormes e desenvolvidos, osso frontal fugidio, arcadas superciliares salientes, órbitas enormes e arredondadas, e outras marcas diversas, consideradas primitivas, que lhe davam um aspecto um tanto bestial.
Deve ter sido dos primeiros habitantes da Europa, onde enfrentou as agruras de um clima hostil e condições ambientais extremamente adversas. A adaptação ao frio daquelas regiões, segundo a regra de Állen, teria resultado em criaturas humanas com cabeça grande, corpo atarracado e estatura baixa, como ainda hoje se pode observar nos esquimós e nos lapões.
Por outro lado, segundo a mesma regra, a adaptação ao calor implicaria no desenvolvimento de criaturas com estatura elevada, membros longos e crânios pequenos, com capacidade variando entre 750 e 1.300 cm3, como pode ser verificado nos restos do chamado Homo erectus, encontrados na Ásia e na África (Homem de Java ou Pithecantropus erectus, Homem de Pequim, Homem da Rodésia, etc.). Num contexto criacionista, parece certo considerar o Homo erectus como uma variedade do Homo sapiens profundamente modificada.
Não parece difícil concluir que imediatamente após o dilúvio universal tenha havido condições para o aumento da variabilidade em pequenas populações, especialmente se sujeitas a isolamento geográfico, a profundas e rápidas mudanças ambientais e aos ataques da entropia.
Num tal contexto, haveria condições para a sobrevivência de eventuais aberrações decorrentes de genes mutantes que se espalhariam com mais facilidade graças à diminuição da competitividade resultante do pequeno número de indivíduos e do surgimento rápido de novas condições ambientais entrando em cena.
É o que pode ter ocorrido com populações desgarradas logo após o Dilúvio. Pequenas populações enfrentando condições muito adversas tendem a sofrer acentuada variabilidade física, preservando, contudo, suas marcas culturais.
Por outro lado, grandes populações tendem a sofrer menor variabilidade física em vista da possível eliminação de genes aberrantes, podendo ao mesmo tempo, em tal contexto, desenvolver maior variabilidade cultural, como se pode observar no estudo dos povos e etnias.
À luz da visão criacionista, não parece tão difícil explicar a tremenda diversidade física e cultural humana, evidente não só na humanidade do passado, mas em pleno século 21.

Quais o senhor acha são as maiores evidências de que o homem foi criado por Deus?

Há um grande número de atributos que conferem ao homem um status singular que jamais poderia ter se desenvolvido gradualmente a partir de atributos animalescos. Tampouco poderiam existir num mundo sem significado ou propósito. Vejamos alguns:
Capacidade para raciocínio abstrato e para o uso de linguagem complexa.* É significativa a conclusão de linguistas de que as línguas possuem uma subestrutura universal que compreende a gramática, o vocabulário e, eventualmente, a fonologia. Por isso, não existem "línguas primitivas" ou "pré-línguas", mesmo entre os povos considerados atrasados. Por outro lado, é reconhecida a existência de uma superestrutura não universal transmitida culturalmente, o que explica a existência de "línguas de cultura", mostrando que a língua que a pessoa fala e o modo como é falada influi na vida intelectual. Os seres humanos estão, portanto, pré-programados para a fala, o que é em si forte evidência de desígnio.
Capacidade de produzir cultura "cultivando" a mente ao prover-lhe conhecimento e ao interagir com outros nos modos de pensar, crer, relacionar-se e comportar-se.
Senso de história e temporalidade. É marca humana sui generis descobrir-se imerso no tempo, "datado", sentindo o presente, o hoje, sem a ele ficar preso, podendo atingir o ontem, o passado, e reconhecer o amanhã, o futuro.
Senso de responsabilidade e dever. Tremenda é a peculiar capacidade humana de possuir e de poder desenvolver uma consciência que o dirige ao que é certo, de acordo com códigos morais que o homem pode conhecer, entender, cumprir e ele mesmo elaborar.
Transcendência. O ser humano, embora consciente da realidade objetiva na qual se situa e imerso na matéria, é capaz de libertar-se da unidimensionalidade e do seu senso de finitude e transcender ao sobrenatural e ao espiritual.
Capacidade de fazer escolhas livres. Outro grande atributo do ser humano que normalmente possui o senso de que "existe" e não meramente de que "vive" ou "acontece". Ele é capaz de defrontar escolhas e opções, refletir antes de agir, e depois de haver optado e já tendo agido, bem ou mal, sente ainda que poderia ter agido diferente.
Apreciação da beleza e gratificação estética são outras marcas essencialmente humanas.* Apenas um ser muito singular em toda a natureza seria capaz de extasiar-se ante um amanhecer, ante uma noite estrelada ou na contemplação de uma paisagem calma. Somente o ser humano é capaz de apreciar a beleza, que parece estar sendo esbanjada, às vezes parece escondida e outras vezes se encontra até perdida na bagagem genética dos seres vivos. Interessante... há a beleza que parece propositalmente existir para ser apreciada e há o ser humano que, de propósito, parece feito para apreciá-las, desde o ciciar da brisa mansa até os acordes de uma Nona Sinfonia.
Por que apreciamos a beleza, desfrutamos a música, e temos essa grande indagação quanto à existência? Essas características mentais parecem ir além do nível mecanicista e estar acima dos requisitos de sobrevivência esperados da seleção natural.
Feitos incríveis da humanidade. É realmente notável perceber as culminâncias atingidas pela humanidade. Em todos os domínios do conhecimento e das realizações, são notáveis as realizações humanas, alcançadas em decorrência da tremenda força do espírito humano, capaz de enfrentar obstáculos e desafios os mais diversos e atingir alturas quase inimagináveis.
É impressionante o elenco de obras humanas, desde o busto de Nefertiti (rainha egípcia do 14º século a.C.), até a estátua de Moisés, esculpida por Michelangelo; desde a pintura da Capela Sistina, até os Girassóis de Van Gogh; desde a obra Les Misérables, de Victor Hugo, até Os Sertões, de Euclides da Cunha; desde o Salmo 19, de Davi, até a obra Kosmos, de Alexander von Humboldt; desde a Didática Máxima, de Johan Amos Commenius, até o livro Educação, de Ellen G. White.
Notáveis são no ser humano seus atributos racionais, morais, estéticos e espirituais, que quando cultivados permitem não só empreender a busca da verdade, mas desenvolver o amor, a bondade, o desprendimento, como se observa, por exemplo, nas vidas de Albert Schweitzer, Madre Tereza de Calcutá e tantos outros.
Lamentavelmente, está sendo consumada a grande tragédia humana, que consiste na opção pelo acaso e na renúncia a uma origem nobre. A comunidade intelectual, e especialmente a comunidade científica, escolheu a visão naturalista do mundo como cenário para a ciência, limitando assim o conhecimento e estreitando a visão de mundo. A visão naturalista, tanto quanto a visão criacionista, são emolduradas por pressuposições e atos de crença. A opção depende muito da formação, do contexto vivencial e da estrutura mental de cada um. É só pensar e escolher.

Notas:
* Nota do entrevistador: No entanto, em nível genético, essa diferença acaba sendo mínima, o que está de acordo com a visão criacionista. Note o que a revista Veja publicou, em sua edição de 5 de maio de 1999 (pág. 113): "Pesquisas de cientistas da Universidade da Califórnia, campus de San Diego, indicam que a humanidade por um tempo esteve às raias da extinção, e as razões apresentadas para tanto vão desde a provável queda de um meteoro que teria dizimado muitas espécies de vida, a epidemias por doenças trazidas por grupos nômades, mudanças bruscas na temperatura, etc. [E por que não um dilúvio global?]
"O fato é que foi descoberto que 'a diversidade genética das pessoas, mesmo entre populações distintas e de lugares muito distantes entre si, como a Amazônia e a Sibéria, é muito pequena. ... Isso leva à conclusão de que 'os seres humanos descendem todos de um pequeno grupo de ancestrais'. Daí entra a explicação de que uma imensa mortandade teria ocorrido em algum ponto da pré-história, ninguém sabendo exatamente o que ocorreu.
"'A variedade genética da humanidade hoje é muito pequena para uma árvore evolucionária que tem tantos elementos e ramificações', afirmou o coordenador da pesquisa, David Woodruff. ... 'É como se fôssemos todos clones de uma única matriz, como na experiência com a ovelha Dolly.'"

* N.E.: A Lingüística Histórica surgiu no final do século 18, com a descoberta feita na Índia - por um juiz britânico que se inclinou ao estudo das línguas e suas relações - de que muitas línguas da Europa e do Oriente estavam reunidas como em uma família, à qual se deu o nome de indo-europeu.

* N.E.: A ação da seleção natural ocorrendo nos diferentes ambientes pós-diluvianos juntamente com o total isolamento geográfico a que as populações humanas estavam submetidas no passado, pode ser uma boa explicação para a origem das etnias humanas. Por exemplo, se após o Diluvio um grupo de indivíduos migrou para o sul da África, acabou se isolando totalmente dos grupos que viviam na Ásia, pois as viagens eram difíceis naquele tempo, e eles nunca mais voltaram a casar entre si. Em lugares quentes, como a África, a pele negra apresenta vantagem em relação à pele branca; então, os indivíduos que nasciam com pele mais escura levavam vantagem seletiva em relação aos indivíduos de pele mais clara. Com o passar de muitos anos e total isolamento reprodutivo (ou seja, estes indivíduos de pele mais escura não se casavam com os de pele clara, pois estavam isolados geograficamente), a pele gradualmente se tornou mais escura. Atualmente estamos vendo o processo inverso acontecer: devido às facilidades de transporte, as barreiras geográficas estão sendo quebradas. Pessoas de etnias diferentes estão se casando e gradualmente estão desaparecendo as diferenças marcantes entre as "raças".

* N.E.: Essa diferença também poderia ser explicada pelas esposas dos filhos de Noé. Elas poderiam ser bastante diferentes entre si. Assim, entre os netos de Noé já poderia haver certa diferenciação. Mas certamente essas diferenças se acentuaram mais com o isolamento geográfico que ocorreu depois do Dilúvio.

* N.E.: Sobre o ponto de vista evolucionista, a própria evolução da linguagem não teria explicação sem a aceitação de uma convivência social de grupos de seres humanos cooperando entre si. Assim, não se pode adotar a hipótese da sobrevivência do mais apto por seleção natural, o que serve de alerta em relação à aplicação indiscriminada dos conceitos biológicos darwinistas - questionados até mesmo no âmbito da própria Biologia - a outros setores da ciência.
Outra dificuldade para o evolucionismo é explicar o surgimento da capacidade de raciocínio abstrato, que envolve a potencialidade cerebral para a compreensão e a utilização dos conceitos de concreto e abstrato. Max Müller, o eminente filólogo alemão, contemporâneo de Darwin, confrontando-o, criticou a teoria da evolução com as seguintes palavras: "É nosso dever advertir aos ilustres discípulos de Darwin que, antes de conseguirem uma verdadeira vitória, antes de poderem declarar que o homem descende de um animal mudo, devem cercar formalmente uma fortaleza que não se renderá por uns poucos tiros disparados ao acaso - a fortaleza da linguagem, que até o momento permanece inamovível exatamente na fronteira entre o reino animal e o homem" (Linguagem e Antropologia, citado em Folha Criacionista nº 22, pág. 46).
Curiosamente, o que não se conseguiu na Biologia, no sentido de se construir uma árvore genealógica dos seres vivos (o que confirma a estrutura conceitual criacionista, segundo a qual os seres vivos foram criados independentemente, "cada um segundo a sua própria espécie"), está se conseguindo aos poucos na Lingüística, já que os fatos apontam para uma árvore com muitos galhos e um tronco comum (confirmando, também, a posição criacionista baseada no relato de Gênesis, e estando plenamente de acordo com as declarações do apóstolo Paulo, feitas no Areópago de Atenas, perante os mais ilustres sábios da época: "O Deus que fez o mundo e tudo o que nele existe, sendo Ele Senhor do céu e da terra, não habita em santuários feitos por mãos humanas ... de um só fez toda a raça humana para habitar sobre a face da Terra" (Atos 17:24 e 26).

* N.E.: É interessante ler o que Darwin escreveu a seu amigo norte-americano Asa Gray, em The Life and Letters of Charles Darwin, vol. 2, pág. 296: "Lembro-me muito bem do tempo quando pensar no olho me fazia esfriar todo, mas já superei esse estágio da doença, e agora pequenos particulares insignificantes de estrutura muitas vezes me deixam muito pouco à vontade. A visão de uma pena na cauda de um pavão, toda vez que a observo, me deixa doente!"

domingo, 7 de abril de 2013

EM BUSCA DE UMA EDUCAÇÃO ADEVENTISTA DE QUALIDADE

EM BUSCA DE UMA EDUCAÇÃO ADEVENTISTA DE QUALIDADE


Vossa obra não consiste em criar beleza na tela ou esculpi-la no mármore, mas em gravar na alma humana a imagem do Criador. (Ellen G. White)

Educação Adventista de qualidade é uma educação diferenciada que se propõe objetivos elevados, considerando religião, caráter, saúde, intelecto, família, vocação, lazer e cidadania e logrando alcançá-los.
Propõe-se a desenvolver plenamente o educando e no contexto adventista, se propõe a nele ainda desenvolver a imagem do seu Criador, permitindo que o educando seja aquilo que de melhor ele poder ser.
Considera devidamente fatores grupais, individuais e contextuais. Não é uma escola entre o mau ou o mais ou menos e o bom, mas sim entre o bom e o melhor. Nunca se satisfaz com o “melhor que nada”.
Em outras palavras, educação de qualidade é aquela que busca excelência em todos os aspectos da sua atuação entendendo-se, contudo que excelência muitas vezes quer dizer o “melhor possível”.
Na verdade, excelência ou qualidade deve ser buscada e essa busca é uma busca continua mesmo quando parece que ela foi alcançada.
A busca não pode parar porque o estado de excelência ou de alta qualidade não é um estado natural. É um estado de equilíbrio instável, sempre propendendo a cair para níveis mais baixos de qualidade em que o equilíbrio é mais estável, como requer a lei da entropia e como se observa numa educação onde o comum é ser comum. É por exemplo o caso da água sujeita à lei da entropia, sempre corre para baixo.
A suma é que o melhor sempre deve ser buscado e quanto “melhor for o melhor”, mais trabalhosa é sua busca e mais árdua é a permanência nesse estado.
Hoje, uma escola que está engajada em busca da qualidade pode ser comparada a uma ilha ou ilhota de excelência cercada pelo mar da globalização, um bolsão de excelência cercado pelo comum por todos os lados.
 Convém não esquecer que a excelência educacional tem muitas face com destaque para excelência na visão filosófica, excelência ambiental, excelência curricular, excelência professoral e excelência administrativa. E ainda é bom lembrar que em se tratando de educação, excelência é o mínimo desejável pois nesse campo não há lugar para a incompetência, e em se tratando de escola adventista, educação é assunto sério, de salvação e destino, porque a obra da Educação é semelhante à obra de Redenção (Educação p.30) e seus objetivos são tornar o homem sadio, sábio e salvo (os famosos 3 esses do ideal da educação cristã).

Reflexões Educacionais:
Educação é um processo de grupo que desenvolve e aprimora indivíduos e deve abarcar o ser todo e o maior período de vida possível.
Contudo é bem conhecido o fato de que para efeito de sucesso e mesmo de destino, em termos de educação os primeiros anos são cruciais!
O que acontece ou deixa de acontecer nos primeiros anos é profundamente significativo!
Especificando um pouco mais, são de suma importância educacional os primeiros anos de vida e os primeiros anos escolares! (Não quer isso dizer que anos posteriores sejam pouco importantes em termos educacionais). Velho texto bíblico assim reza: ensina o menino (criança) no caminho que deve andar e quando envelhecer não se desviará dele (Provérbios 22:6).
Pondo em outra linguagem: educa o pequeno enquanto pequeno para que quando for grande, não seja pequeno.

Primeiros anos de vida:
São marcados por dois eventos básicos: andar e falar. O ser humano parece programado para andar e falar.
Não precisa aprender. Basta conviver com comunidades andantes e falantes.
Se conviver com animais andará como quadrúpedes e em vez de falar, grunhirá, uivará ou rosnará. O estudo das crianças-feras assim o demonstra (Amala e Quemala, irmãs gêmeas e mais recentemente Ramú, na Índia).
Na vivência familiar o pequeno conviverá, verá, ouvirá caminhantes e falantes e com dois anos caminhará e falará . Com 2 meses, esboça os primeiros movimentos e flexões, com 4 levanta a cabeça e o tórax, com 6 se apoia em suas mãos, com 9 engatinha, com 1 ano caminha, com 1 ano e meio corre, com 2 sobe escadas, com 4 se matem sobre um pé e com 5 é capaz de pular corda. É um novo caminhante.
Ao mesmo tempo entra nos fantásticos domínios da fala: ao nascer chora, com 1 mês produz sons guturais, com 2 meses sorri, com 3 gorjeia usando vogais (a, au...). Com 4 ri, com 7 usa consoantes no meio das vogais (angu), com com 9 coloca consoantes na frente de vogais (ma, pa, usando as consoantes infantis como m, p, b), com 11 diz mama, papa, com 1 ano e meio nomeia objetos, com 1 ano e 9 meses forma frases com 3 ou 4 palavras, com 2 anos conhece seu nome, com 3 emprega o plural, com 4 emprega pronomes (eu, tu, você) e com 5 fala com desenvoltura tão grande quanto a desenvoltura daqueles que ele ouviu falar. Poderá ser erudito se entre eruditos viver.
Ao andar e falar abre-se para ele uma janela para o mundo e para a vida promovendo conhecimentos, e desenvolvendo comportamentos e relacionamentos.

Primeiros Anos Escolares:
Ocorrerá agora outros dois eventos básicos da vida: ler e escrever, que conduz ao domínio dos processos fundamentais sobre os quais tudo mais repousa.
Agora há aprendizagem e escola é um espaço onde ela ocorre. Pode ser um prédio, uma sala ou a própria rua. A base da leitura e da escrita tradicionalmente tem sido estabelecida pelo processo chamado alfabetização. Consiste em estabelecer relação entre sons falados (fonemas) e símbolos escritos, riscos, rabiscos, garatujas (grafemas) ou seja procura se estabelecer uma relação entre sons e letras de um código, o alfabeto, por um processo de codificação e de decodificação que acaba conduzindo à associação entre sons (fonemas) e letras tendo em vista a capacidade de ler e escrever palavras e frases.
Ex: O bebê baba a babá
Este método costuma ser chamado de método fônico e é um método que continua tendo prioridade em muitos países desenvolvidos.

O Método Global (Whole language) é defendido pelos construtivistas. Para aprender a ler e escrever melhor seria trabalhar diretamente com textos excritos que dizem respeito ao mundo da criança. Este método costuma ser chamado de letramento e pretendem muitos que substitua a alfabetização.
Na verdade, não se pode confundir alfabetização com letramento porque o objetivo da alfabetização (método fônico) é levar a criança a ler e escrever com fluência (associar sons com letras) ao passo que letramento seria o processo que leva a compreender aquilo que é lido.
Evidentemente leitura com fluência (alfabetização) favorece o letramento (compreensão daquilo que é lido) e por isso o processo de associar sons a símbolos escritos para aprendizagem da leitura e da escrita não deveria ser descartado. Muitos países desenvolvidos tomaram essa posição e esse cuidado.
Com a entrada para o fantástico mundo da leitura e da escrita, a janela para o mundo e para a vida abre-se ainda mais. Agora são providos novos conhecimentos, são desenvolvidos novos comportamentos e relacionamentos acompanhados de conscientização cada vez maior.

Conceito de Educação:
É o desenvolvimento harmonioso e integrado das potencialidades humanas.
Esse desenvolvimento envolve conhecimentos, procedimentos, emoções, sentimentos e comportamentos. Melhor envolve tudo, todo o ser.
Em suma, um processo que implica em saber, ser, sentir, fazer e crescer. É mais que instrução e ensino. Aborda o ser todo e vai além da razão e da profissão, pois atinge a alma. É na verdade um estado de espírito!

Educação de Qualidade – É mais que boa educação porque ela desenvolve o educando para uma plenitude que permite que o educando seja tudo o que ele pode ser!
É um desastre alguém poder ter sido e não ter sido.
Não ter sido por não poder ter sido, vá lá. Mas não ter sido podendo ter sido, é uma tragédia educacional.
Uma educação de qualidade tem muito mais condições de fazer com que o educando seja de fato tudo o que ele pode ser.
Convém repetir: em se tratando de educação, excelência é o mínimo desejável. Nesse campo não há lugar para a incompetência.
A tarefa da busca de educação de qualidade é árdua e requer ação idealista de melhoristas educacionais. Buscam sempre o melhor!
E como é dura esta tarefa, pois hoje é comum ser comum e é incomum se ser incomum se ser incomum é ser melhor!
Uma boa inspiração nós temos no esforço dos melhoristas orquidófilos na busca da “flor perfeita” através de seleções, hibridizações e semeaduras.
Uma flor perfeita, valendo 100 pontos de classificação numa escala ideal jamais foi vista, mas se aparecesse, seria prontamente reconhecida pelos melhoristas que tem conseguido após 150 anos de estudos e seleção, produzir flores alcançando até 95 pontos na escala e por isso, como dizem os orquidófilos são flores colocadas na “porta do céu”. Na porta, bem perto de entrar (para os 100 pontos).
Fazendo uma analogia, da mesma forma a educação de qualidade visa colocar educandos na porta do céu do saber, do ser, do fazer ou seja na porta do céu educacional e para tanto a escola, como um todo, deveria estar na porta do céu.

BUSCANDO QUALIDADE

Visão Educacional – A busca da qualidade passa pela visão educacional que também poderia ser chamada de filosofia educacional, crença que resulta de uma visão que faz as vezes de guia da educação nos processos de desenvolvimento. Faz parte do meta sistema educacional.
Diz respeito ao modo como a escola vê o mundo, o homem, a vida, a educação, o começo e o fim de tudo! Vê como tudo começou!
Se não for possível dizer como é o mundo, se não pudermos dizer o que é o homem no mundo, não poderemos dizer o que é a educação.
Diz respeito ao modo como a escola se vê no mundo, e em decorrência, como o mundo vê a escola!
Uma visão de qualidade deve ser ampla, abarcante, abrangendo todos os aspectos da realidade e nela todos os aspectos do ser e da vida.
Uma visão educacional de qualidade deve poder situar-se com equilíbrio ante dilemas resultantes da multiplicidade de visões parciais, atuais, muitas delas se opondo uma a outra como é o caso de visões individualistas, via de regra elitistas dando relevância ao indivíduo, em oposição a visões coletivistas, de cunho social e massificador com ênfase no grupo.
Possivelmente uma posição conciliadora poderia ser expressa pela proposição: o indivíduo não é menos importante que o grupo pois a educação é processo de grupo mas deve aprimorar indivíduos.
Uma visão educacional abrangente deve encontrar equilíbrio entre visões utilitárias ou práticas enfatizando o preparo para a vida prática do dia-a-dia, o aprender fazendo e visões culturais ou academicistas pondo ênfase na alta cultura e nas vantagens de um intelecto bem desenvolvido.
Da mesma forma deve poder situar-se com posicionamento judicioso antevisões imediatistas, de cunho mais secularizado, do tipo aqui e agora ou hoje e já (here and now) e visões mediatistas com conteúdo mais escatológico como a visão adventista do tipo depois e além (furthers and beyond).
Outro dilema para a formação de uma visão educacional de qualidade é defrontado quando se considera visões diretivistas segundo as quais há caminhos educacionais para serem trilhados (educação é processo dirigido) e visões não diretivistas para as quais não há caminho e o caminho é feito caminhando como se observa em contextos evolucionistas e construtivistas.
Outro grande dilema surge da oposição marcante entre visões naturalistas segundo as quais as leis naturais conhecidas seriam suficientes para explicar o mundo e visões supernaturalistas com seu colorido teista e criacionista como ocorre na visão educacional adventista que assume que as leis naturais conhecidas são insuficientes para explicar o mundo.
Formar uma visão abrangente ou uma cosmovisão que considere todas estas visões parciais é o grande desafio para uma visão ou filosofia educacional de qualidade que deve ser integradora, integrando com coerência numa mesma moldura todos os aspectos da educação permitindo assim o uso correto da expressão “educação integral”, tão difundida nos meios adventistas.
Relevância – Diz respeito aquilo que é considerado mais importante numa multimissão educacional embora em educação não haja cousa sem importância.
Dentro da cosmovisão educacional adventista cabe destacar a preocupação com aspectos básicos da educação cogitando a seu devido tempo Religião, Caráter, Saúde, Intelecto, Família, Vocação, Lazer e Cidadania, integrando-os em uma moldura biblista com coloridos teista, criacionista, cristão e adventista, considerando a confessionabilidade da escola.
Antecipação – Uma visão educacional de qualidade deve poder antecipar o amanha, embora atenta ao hoje, com sua virtualidade e instantaneidade e sem esquecer o ontem com as lições que ensina.
Antecipar o amanha é preparar o educando para o mundo de amanha, para o mundo globalizado da cibercultura, da internética, da nanotecnologia, das conquistas espaciais com suas maravilhas, tudo isso levando para o bem e para o mal.
Antecipar o amanha quer dizer formar o educando de modo que não seja simplesmente marcado pela moderna agenda mundial para tornar-se mero plágio, fantoche ou Xerox comportamental de algo ou de alguém.
Está se tornando cada vez mais difícil alguém ser ele mesmo.
Sem dúvida uma visão teísta e crista do mundo que considera o homem como criatura especial de Deus, confere qualidade a uma visão educacional.
Uma visão em cujo topo se encontra uma admirável constelação de valores balizando objetivos educacionais – valores religiosos, espirituais, morais (princípios de vida), sociais, intelectuais (conhecimento, saber), corporais (saudabilidade) materiais (cousas, dinheiro) e mesmo valores do presente século desde que adequados a uma educação de qualidade e livres da ação do ciberlixo, telelixo e outros lixos, tolices e parvoíces e superfluidades da agenda moderna.
Cuidados – Visões educacionais devem ser mantidas nítidas, sem desdobramento, sem distorções e sem desvirtuamento pois elas degradam marcadas que são pelo tempo e pela entropia.
Mais ainda, visões educacionais embora nas alturas, devem atingir o chão do dia-a-dia educacional (currículo ou ações e atividades desenvolvidas na escola).
Visão educacional que não chega ao chão perde seu poder guiador.
Não basta apregoar a visão no marketing (falar dela, escreve-la em prospectos, regimentos e projetos pedagógicos).
Visão que atinge o chão educacional deve ser capaz de criar ou mudar comportamentos tendo em vista os objetivos de uma educação de qualidade.
O grande mistério e a grande beleza de uma educação de qualidade consiste em transformar visões, filosofias, programas de ensino, palavras faladas e escritas em comportamentos, em conhecimentos, em práticas e em procedimentos.
Vívida, clara e completa e vivida na vida, deve ser a visão educacional associada à qualidade. Só assim a educação fará diferença para melhor. Diferença que não faz diferença, não é diferença!
Substrato de Qualidade – Um substrato material e espiritual rico é outra marca da educação de qualidade e é requerido pela ampla visão educacional construída.

Instituições assim como seres vivos necessitam de bons substratos.
Substrato Material – Diz respeito aos espaços educacionais como prédios, estilos arquitetônicos, salas de aula, salas especiais e equipamentos, pátios e acabamentos.
Convém não esquecer que escola é um espaço onde se ministra educação.
Quando se pensa no substrato material de boa qualidade logo surgem três marcas: funcionalidade, durabilidade e beleza.
Funcionalidade é alcançada mediante formas e disposições que favoreçam o ensino, a supervisão, a segurança e o bem-estar.
Durabilidade – É conseguida mediante o uso de materiais duráveis, resistentes e manutenção adequada.
Beleza – Tem na educação mais valor do que se pensa, especialmente numa educação de qualidade.
É alcançada através da harmonia da forma (estilo arquitetônico por exemplo) harmonia dos sons (boa música), harmonia das cores e tantas outras.
Trabalho prático – Espaços educacionais também devem prover condições para trabalho prático com as mãos.
Deve ser evitado o excesso de áreas cimentadas para abrir espaço para jardins e hortas e mesmo para a criação de aves e pequenos animais. Quem sabe uma fazendinha.
É de suma importância aprender a trabalhar a terra, semear, ver brotar e crescer, cuidar e colher.
Bom Substrato Espiritual. É marca sui generis numa educação diferenciada para a qualidade.
Ambiência agradável.
Clima espiritual sadio e aprazível.
Bom espírito de lugar (os lugares também têm espírito) permeado por companheirismo (um dos 3 “cês” da educação), boa interação social, respeito pelos outros e pela vida.
Resultado. Lugar gostoso de estar, de conviver, de levar e deixar saudades.
O bom espírito de lugar deve promover uma ambiência escolar sadia, colorida, enriquecida por eventos, comemorações, reuniões de caráter religioso, cultural, artístico cívico, atividades recreativas e atividades esportivas sem competição acirrada... tudo marcado por compostura adequada ao tipo de evento.
Eventos solenes, de bom nível, formaturas, programas especiais não podem ser marcados por compostura grossa com gritaria, assobios, bate pés, parvoíces e bizarridades como hoje se vê.
Numa instituição que provê educação de qualidade, compostura fina, boa educação e respeito são marcas bem observáveis. Observar e mesmo conviver com gente fina é outra coisa!
Ensino de Qualidade – O bom ensino é a alma da escola e é por ele que perguntam primeiro os que procuram uma escola.
Por sua vez o ensino é de qualidade quando é ensinado o que deve ser ensinado de acordo com a filosofia educacional da escola e o que é ensinado é aprendido e praticado e isso para o bem geral e do educando.
Aliás, o aprender e o praticar deveria estar embutido no sentido da palavra ensino como acontece no hebraico, não sendo assim necessário estar toda hora usando a expressão ensino – aprendizagem tão comum em pedagogês.
O Bom Professor – É pedra angular no ensino de qualidade. É elemento de suma importância no bom ensino. Assim foi e assim continuará a ser. A profissão de professor é uma profissão que perdura e continuará, embora seja das mais antigas.
Professor – Aquele que sabe. Sabe ensinar o que sabe. Sabe viver o que ensina.
Melhor – Professa o que ensina. Ensina professando. Forma! Professora, educa, não apenas leciona, instrui, informa ou dá aulas. É mais que um docente.
Pesquisas feitas envolvendo metodologias diversas têm evidenciado que o resultado do ensino muitas vezes depende mais da personalidade do professor do que do método empregado.
O bom professor é o professor competente, reconhecido e contente.
Professor Competente – A competência do professor está balizada na sua capacidade magisterial ou magistral complementada por um elenco de qualidades pessoais como: aptidão física, mental e social, boa cultura, bom caráter e capacidade de comunicação por palavras, postura e vocação.
Como profissional é capaz de fazer a transposição didática do conhecimento já escolarizado (conhecimento tornado adequado para o ensino nas escolas como no caso do livro didático) tendo em vista a motivação e a predisposição para aprender e praticar.
A competência do professor repousa sobre o famoso trio fundamental da educação: competência, coerência e companheirismo.
Seria bom lembrar – com companheirismo se ensina e se aprende.
Sem companheirismo ou não se aprende ou se aprende mal o que se ensina.
O bom professor também atua como artista – cinzelando, burilando e modelando caracteres e personalidades. Uma educação de qualidade tem muito de arte em si mesma. Está muito além de procedimentos pedagógicos.
Também há muito de apostolado no bom ensino.
Bem se dizia nos anos 40 e 50 que os professores do Colégio Adventista de então, faziam do seu magistério um apostolado.
Na verdade poderia se dizer que os professores são apóstolos da lousa.
É bom lembrar: o professor ensina o que quer de acordo com o seu planejamento programático... E ensina o que não quer por seu caráter e personalidade. Aliás, educar é justamente partilhar caráteres e personalidades.
Ainda é bom lembrar: muitas vezes o professor ensina melhor o que não quer do que o que ele quer e isso para o bem ou para o mal.
Reconhecimento e Contentamento – Para trabalhar contente e não se sentir ignorado e mesmo deprimido, o professor, mais do que a maioria dos mortais precisa de reconhecimento... reconhecimento da parte da escola (direção, entidade mantenedora), da sociedade, dos pais e de outras entidades organizacionais.
Convém lembrar ainda que reconhecimento é um dos maiores motivadores da conduta humana. Pode e deve ser feito de muitas maneiras e não só de maneira formal no dia do professor ou no dia do seu aniversário.
Convém acrescentar que bom salário ou ao menos salário justo é uma forma de reconhecimento no meio de muitas outras igualmente ou mesmo mais importantes.
Currículo – O Currículo é outra peca chave no ensino de qualidade.
Diz respeito às ações e atividades desenvolvidas nos espaços educacionais tendo em vista alcançar os objetivos que fluem da visão educacional ou filosofia.
Uma visão educacional vívida, clara, colorida é transformada pelo currículo em comportamentos vividos.
Currículo Formal e Real – O currículo escrito nos projetos pedagógicos, nos programas de ensino e nos prospectos, e que se refere a ações praticadas e atividades desenvolvidas na escola pode ser chamado de currículo formal. E se for muito bom poderia até ser chamado de currículo ideal.
Por sua vez o currículo que de fato vige nas escolas, no chão do dia-a-dia, em ações e atividades que de fato acontecem, pode ser chamado de currículo real.
Este às vezes é bem diferente do currículo formal quando não se faz tudo o que é dito que deveria ser feito, ou se faz o que não é dito dever ser feito. Esse é um grande defeito da educação.
Nas escolas com educação de qualidade a diferença entre o currículo formal escrito e o currículo real, o currículo que é, que é vivido, é pequena.
Contudo em algumas escolas onde não se prima pela qualidade ,a distância entre os dois pode ser de “léguas”.
Se apregoa uma cousa e se faz outra ou não se faz tudo o que se apregoa.
Trata-se de uma incoerência gritante e de um verdadeiro “azar educacional”!
Isso nos leva ao “currículo escondido” que é praticado mas não está escrito como devendo ser praticado. Ele surge atrás das aparências e pode ser percebido “entre as linhas”.
Já currículo gago é o currículo não totalmente praticado como está escrito que deveria ser praticado.
Currículo e Espelho – Currículo (do latim curros que quer dizer caminho ou curso) é em verdade o espelho da visão educacional.
É interessante que é um espelho no chão do dia-a-dia educacional que espelha uma visão educacional ou filosofia que está nas alturas, no “céu”.
Em outras palavras, currículo diz respeito a cousas que se faz aqui na terra (escola) decorrentes de uma visão (ideal) que está no céu.
O currículo deve fazer o milagre de transformar visões, filosofias, ideais, sonhos, imaginação, palavras faladas ou escritas em conhecimentos, comportamentos, ações e práticas e estilo de vida do educando. Transforma ideais de gente em gentes.
Integralidade ou Abrangência – Como bom espelho o currículo deve refletir integralmente a visão educacional que quando se trata de educação de qualidade é ampla, abrangente e minuciosa. Na visão educacional de qualidade tudo tem importância.
Um modelo de currículo com grande número de ações e atividades cogitando de todos os aspectos do ser e da realidade pode ser proposto:
Ações e Atividades envolvendo –
Gentes – viva ou finada, professores, pais, colegas, amigos, cidadãos, autoridades.
Sentidos – olhos, ouvidos, fala, gosto, tato, olfato.
Sons – sabores e cores.
Aulas – raciocínio, reflexão, memorização, gosto ao artístico.
Intelecto – letras, números, textos, histórias, preleção, pesquisas, internet.
Comemorações, programas, festas, criatividade, expressão artística.
Trabalho, práticas educativas, material com valor pré-vocacional.
Brinquedos, exercícios, visitas, passeios, excursões.
Principio de Vida – Virtudes, honestidade, confiabilidade, altruísmo, domínio próprio, recato, feminilidade, virilidade, cortesia, compostura fina, dignidade, sensibilidade, conhecimento de Deus e de sua obra, religiosidade.
Marca Importante – Ações e atividades do currículo devem ser permeadas por bons modelos pessoais (gente), ambientais (espaços) e formais (organização e disciplina).
Administração Escolar
A educação de qualidade também passa pela administração da escola.
Administrar uma escola consiste em dirigir o esforço educacional nela desenvolvido na direção de objetivos pré-estabelecidos.
Mais do que mandar, consiste em liderar, persuadir, supervisionar entendendo-se que:
Liderar é a capacidade de predispor ou motivar um grupo ou algo.
Persuadir seria dirigir apelando para a razão e para o sentimento.
Supervisionar seria acompanhar as atividades educativas em andamento sob o enfoque operativo, profissional e educacional.
Percebe-se de imediato que dirigir uma escola implica em estabelecer uma profunda
Interação humana como suporte na busca dos objetivos educacionais.
Poderíamos dizer que são três as grandes marcas de uma boa administração escolar: competência, integridade e sensibilidade.
Competência é calcada sobre bom conhecimento da ciência da administração, hoje bastante desenvolvida, sobre experiência prévia bem sucedida e sobre autoridade, não apenas formal que deriva do cargo ocupado por nomeação ou eleição, mas também pessoal, autoridade que é inerente ao ocupante do cargo e que deve valorizar o cargo.
Integridade – Administrar uma escola não é apenas assunto de competência, mas muito mais de bom caráter e de compostura íntegra.
Sensibilidade – Qualidade profundamente humana, marcada por fina percepção de potencialidades e necessidades que permeia o complexo processo de interação humana no contexto administrativo.
Qualidade indispensável naqueles que estão à frente das gentes marcando seus passos.
Sensibilidade, qualidade que muitas vezes os administradores vão perdendo com o passar do tempo e com o “inchaço do ego” que ataca muito aqueles que gostam de mandar nas gentes.
Em linguagem figurada a perda de sensibilidade transparece quando olhos tendem a ficarem estrábicos, os ouvidos moucos, a fala vai ficando gaga e o bom senso vai ficando gagá.
Por outro lado, a administração pesada tolhe a lepidez organizacional marcada por excessiva centralização e burocratização.
Muitas vezes chega a sufocar pessoas e idealismo, especialmente se não forem do grupo pessoal de apoio ostensivo.
Em administração as teorias X e Y permitem comparações entre administração pesada e leve.
Teoria X – Os seus proponentes assumem ou agem como se os melhores motivadores da conduta humana fossem: remuneração (salário alto ou baixo) controle (fiscalização), pressão institucional (intimidação) e sanções (punição).
Teoria Y – Seus proponentes assumem que há motivadores muito melhores da conduta humana e deles se valem no processo administrativo: reconhecimento, crédito de confiança, delegação, participação, senso de auto realização, bom trato, boa interação pessoal e inspiração.
A pesquisa e a experiência tem demonstrado que como num toque de mágica, tornam a administração leve e suportável e eventualmente até apreciada chegando até a deixar saudades o que não é comum! Poucos administradores deixam saudades!
Administração Eficiente – Logra alcançar os objetivos institucionais sem o dispêndio excessivo de tempo, energia e recursos e sem excessiva pressão, sufocação e abalos na saúde organizacional.
Administração Transparente – Na administração boa e séria, nada há para esconder. Tudo está claro para todos e não apenas para uns poucos.
A comunicação é a duas mãos, não só de cima para baixo, mas também de baixo para cima.
Não há segundas intenções.
Não há clima de insegurança.
Ninguém se sente na “berlinda”...
Que virá agora? Quem vai ser o próximo? (clima de suspense)
Informações, planos, motivos, apreciações, resultados operacionais, balanços estão disponíveis para quem quiser, em língua franca corrente (português) e em linguagem clara. Não há nada escondido. Não há segredos sob sete chaves.

Entidade Mantenedora – Seu papel é crucial numa administração e acaba influindo muito na qualidade.
Em última instância é a responsável pelos mandos e desmandos administrativos e educacionais que porventura ocorrerem na escola.
Sua ação deve ser responsável, inteligente, sensível, presente e atuante.
Não é suficiente mandar de longe por atas de comissões a partir de escritórios distantes.
A entidade mantenedora deve sentir a ambiência escolar vendo e ouvindo não apenas as pessoas de confiança nomeadas, mas outros interessados e envolvidos. E quanto mais ouvir, melhor. Não preocupar-se demasiadamente com a operação financeira em detrimento dos princípios educacionais vigentes e da preservação da cultura educacional adventista, tão ameaçada, e mesmo mudada, que algumas escolas adventistas se tornam quase irreconhecíveis.

Conclusão – A busca na escola adventista de uma educação de qualidade consiste nada menos do que a busca da excelência em todos os aspectos educacionais básicos: filosofia educacional que flui da visão educacional, substrato material e espiritual, ensino, currículo e administração.
Não permitamos que nossa bela visão educacional se desbote, se distorça.
Cuidemos da nossa miopia e vesguice educacionais.
Certifiquemo-nos de que nossa visão educacional está de fato chegando ao chão do dia-a-dia educacional onde estão as gentes que nos foram confiadas. Que ela não ilumine apenas as alturas das palavras dos programas de ensino e dos prospectos, mas chegue ao chão curricular onde estão os professores e educandos.
Que nenhuma ação institucional e educacional, ninguém, nada sufoque o idealismo ainda existente ou que surja naqueles que creem na educação adventista.

Desafios à Educação de Qualidade

Deslocamento de Paradigmas

Paradigmas são: ideais, exemplos, modelos, sistemas, procedimentos.
Modelos são: pessoais, organizacionais, ambientais, formais, científicos, que aceitos numa época, tendem a ser substituídos com o correr do tempo. Envelhecem!
Deslocar, substituir, descartar paradigmas (modelos, ideais) é marca tipicamente humana.
Atinge todas as épocas, todas as áreas e atividades e todas as fases da vida, até de crianças.
Nem a ciência e nem a lógica escapam! Ex. todo A é A (nem sempre).
No cenário educacional tem sido marcante a substituição de paradigmas ao longo do tempo. É muito mais maçante agora na pós-modernidade!
Alguns exemplos para reflexão:
O paradigma escola paroquial (1ª metade do século XX) foi substituído pelo paradigma centro educacional (mega escola) atendendo a centralização, viabilidade financeira e à própria legislação escolar. Comparando:
 Escola Paroquial – junto, atrás ou embaixo da igreja, com mestres-escolas, junta escolar e apoiada no fundo de educação.
Ex. A escola paroquial de Santo Amaro :
- Eram educacionalmente e operacionalmente viáveis.
- Proviam educação “bem adventista”
- Formavam futuros bons membros da igreja, bons cidadãos e candidatos ao Colégio Adventista.
Centros Educacionais – grandes colégios com centenas de alunos, dezenas de professores e problemas, ao lado das vantagens operacionais enfrentam os desafios da massificação, burocratização, centralização e outros tantos no esforço de prover educação com qualidade.
Outro paradigma deslocado no cenário educacional: o conceito de educação adventista em termos de abrangência.
Antes: Educação adventista é a educação de adventistas, por adventistas, de acordo com princípios adventistas!
Hoje: Educação Adventista é a educação oferecida a quem quiser, pelas escolas do sistema educacional adventista sob a égide da filosofia educacional adventista adaptada aos contextos atuais.
Paradigma do diretivismo educacional, ou seja, a educação como sendo um processo dirigido para alcançar determinados objetivos educacionais. Em outras palavras, educação é um processo que trilha um caminho pré-estabelecido bem expresso na antiga frase bíblica que reza: ensina ao menino no caminho que deve andar... Prov.22:6
Tradicionalmente, inclusive na escola adventista, a educação tem sido dirigida a partir de uma filosofia da educação, a partir de uma visão educacional. A própria palavra educação (educatio, educere-verbo) assim o sugere. Há um caminho educacional.
Hoje, nos contextos rapidamente mutantes da modernidade onde o futuro é declarado aberto, a construir, a evoluir, ganha forca o não-diretivismo educacional.
Não há caminho, o caminho é feito caminhando como se apregoa nos contextos construtivistas.
Sem dúvida dar à educação um colorido não diretivista como é a tendência atual, constitui-se em forte desafio a uma educação adventista de qualidade que tem ou deve ter objetivos bem claros.
O Paradigma do equilíbrio na transição lar-escola também está sendo desafiado. Este paradigma leva em conta a crucial importância dos primeiros anos de vida (vividos em família no lar) e dos primeiros anos escolares quando a escola também passa a influir não só na aquisição de conhecimento mas também no julgamento moral das crianças.
Em primeiro lugar deve ser feita no tempo certo – nem cedo, nem tarde demais.
Em segundo lugar deve ser serena, lembrando que a transição bom lar má escola ou mau lar e boa escola pode ser problemática.
O Paradigma da entrada na escola com sete anos, tem sido deslocado para limites cada vez mais baixos e isso por razoes várias.
Com isso ocorre a precocidade da educação formal com influência prematura de professores e colegas e também a precocidade da socialização grupal em detrimento da socialização familiar e parental.
É grande o desafio da primeira fase do convívio familiar com a escola assumindo mais e mais papéis ao avançar sobre a vivência familiar.
É grande a possibilidade de desestruturação de aspectos da vida familiar resultando como hoje se vê em “meninice problemática” ao lado da já tradicional adolescência problemática, face ao ajustamento existencial.
Considerar devidamente essa precocidade escolar e social é um bom desafio na educação de qualidade.
Deslocamento de paradigmas organizacionais – Têm sido marcantes as mudanças paradigmáticas nos modos da direção familiar, administração escolar e gestão de outras instituições.
Não faz muito tempo que instituições passaram de fases pré-organizacionais para fase organizacional e já ingressam em fase pós – organizacional atendendo a alterações contextuais.
No caso de uma educação para a qualidade há que haver muito cuidado com mudanças muito acentuadas nos paradigmas organizacionais visto a educação ser um processo de grupo, mas que aprimora indivíduos.
Há paradigmas que não devem ser deslocados. Outros não convém deslocar. Eles se vingam. Muitos males da época presente resultam da vingança de paradigmas deslocados.
Massificação – É um fenômeno típico dos grandes centros educacionais e das grandes redes escolares. Deve ser levado em conta pois favorece a despersonalização do ensino e é um convite à burocratização e centralização excessivas. Bem dizia Bill Gates: o tamanho combate contra a excelência.
Amoralidade e Anomia – Tem sido notada uma vigência cada vez menor da moralidade do tipo certo – errado. Escolhas morais cada vez mais ocorrem “entre mal maior e mal menor”. Mais e mais procedimentos e comportamentos passam a não ser nem morais, nem imorais. São simplesmente amorais e assim aceitos e praticados num contexto de anomia. Não tem nome certo.
Como exemplo, basta observar comportamentos e práticas que marcam certas formaturas e programas vários com assobios, gritaria, bate-pés e outras tantas parvoíces observadas, quando num contexto de amoralidade e sob a impavidez dos responsáveis, a compostura grossa toma o lugar da compostura fina que tão bem marca uma educação de qualidade.
Professorização fraca – Resulta da didatização deficiente e da falta de idealismo pessoais desfilando nos palcos escolares e da pouca disposição de professores, diretores e assessores encarnarem os valores educacionais da instituição.
A encarnação de valores por parte de educadores é a melhor maneira de passa-los aos educandos. Educação que não passa ou passa mal os valores que elege não é educação de qualidade.
Inovação e Modismos – Há uma tendência cada vez maior de inovar nos domínios educacionais. Às vezes se inova só por inovar. Outras vezes se inova para distrair a atenção diante de algum problema em foco como, por exemplo, a discussão suscitada pelo binômio custos-qualidade.
Inovação também pode simplesmente ser uma alternativa para a mesmice que incomoda muita gente.
Ainda outras vezes inovação é uma maneira de introduzir modismos educacionais, novidades e até tolices nos contextos educacionais. Convém não esquecer o que disse a pouco um pensador contemporâneo: não há inteligência capaz de se opor a uma tolice que se tornou moda.
Por outro lado inovações adequadas ao contexto educacional adventista podem contribuir para a melhoria de qualidade que é requerida quando se passa do bom para o melhor. Contudo, quando inovações são apenas meros modismos, sejam elas pedagógicas, comportamentais ou outros, podem até comprometer a cultura educacional adventista que, diga-se de passagem, é uma contracultura ilhada em meio à cultura contemporânea.
É bem sabido que miscigenações culturais podem levar a processos de aculturação que resultam em uma cultura educacional nem bem adventista, nem bem mundana. Irreconhecível, as vezes numa “terra de ninguém”.
É muito bom lembrar e prestar sentido que nos procedimentos educacionais adventistas existem mesmices que devem continuar sendo as mesmas, se não quisermos desfigurar nossa educação e se de fato buscarmos uma educação de qualidade.
É uma boa estratégia de tempos em tempos refletir seriamente sobre o que, a todo custo, deve ser preservado em nossa cultura educacional.
Em caso de dúvidas ou controvérsias, uma boa posição seria preservar posições anteriores.
Descontextualização – Algumas formas de conhecimento, mesmo depois de serem escolarizadas (tornadas adequadas ao ensino na escola ) e especialmente no ensino básico, deveriam ser descontextualizadas de suas molduras ao serem passadas para o currículo escolar adventista, espelho de nossa filosofia ou visão educacional.
Seria por exemplo o caso de conhecimentos provenientes de áreas como ciências biológicas, estudos sociais, pré-história e outras por conterem elementos não coerentes com nosso contexto educacional.
Também seria o caso de, agora em todos os níveis escolares, descontextualizar certos procedimentos e práticas que conduzem a comportamentos inapropriados à cultura educacional adventista.
Seria por exemplo o caso das práticas esportivas marcadas por competição acirrada num estilo gladiatorial à moda do coliseu.
Basta frequentar alguns ginásios ou quadras esportivas para não sair apenas amolado, mas atordoado pela gritaria e sua reverberação.
Da mesma maneira formaturas, programas culturais e festas, em qualquer nível de ensino deveriam ser descontextualizadas da gritaria, assobios, bate-pés, parvoíces e compostura grossa de populacho que costumam acompanha-los.
Ao mesmo tempo, sempre que possível, conhecimentos, procedimentos e práticas descontextualizadas de suas molduras deveriam ser recontextualizadas numa moldura educacional crista, adventista e biblista.
E por falar em moldura biblista cabe mencionar a importante integração Bíblia-Ensino e Ensino-Bíblia que significa integrar a Bíblia com o ensino das outras disciplinas e o ensino destas disciplinas com a Bíblia e isso feito por todos os professores em todo tempo e em todo lugar.
Muito cuidado com os modernos “cavalos de Troia educacionais e com os estragos que podem fazer dentro de nossas escolas.
Se descuidarmos podemos perigosamente estar jogando, com nossos alunos, o jogo da vida e mesmo o destino dentro das nossas próprias quadras e domínios.
Para concluir uma palavra aos gestores financeiros – que a concorrência acirrada e as implicações do insolúvel binômio custos x qualidade, não conduzam à mercantilização do ensino.
Uma palavra também aos administradores, coordenadores, assessores e professores – que a entropia, o tempo e a displicência não desbotem nem desfigurem nossa visão educacional.
Que o tempo que obsoleta conhecimentos, inclusive conhecimento de ponta, não obsolete nossos princípios educacionais.
Concluindo finalmente – não nos esqueçamos que o grande teste para uma educação adventista de qualidade é restaurar no educando a imagem do Criador, imagem esta visível e sensível nos seus comportamentos.
Tem ocorrido muito deslocamento de paradigmas, muita inovação e muita mudança no nosso contexto educacional. São oportunas? São necessárias? Contribuem para maior glória a Deus? Não esqueçamos há um juízo investigativo em andamento. Que o juízo final não nos surpreenda! Que o veredito seja: bem está fiel educador adventista!